19/08/2014
Recentemente, entidades do agronegócio apresentaram
suas propostas aos candidatos à Presidência da República. Os documentos
entregues são muito completos e abrangentes, mas sentimos falta de elementos de
uma agenda ofensiva.
O agronegócio brasileiro sempre foi considerado um
setor à frente dos demais nos temas de comércio internacional. Talvez seja o
único grande setor da economia brasileira claramente ofensivo na abertura de
mercados e na defesa do livre- comércio. A mesma atitude o agronegócio deveria
estar desenvolvendo nos temas de produção responsável e boas práticas
produtivas, e uma eleição presidencial é o momento ideal para firmar posição.
Setores específicos, como o sucroenergético, florestas
comerciais, soja e pecuária de corte, têm agendas individuais de consolidação
da produção responsável e de boas práticas produtivas, cada uma em estágios
diferentes. Essas são iniciativas concretas que podem tornar o País referência
mundial em cadeias sustentáveis.
Por que não tornar esse movimento
numa agenda comum e ofensiva do agronegócio?
Não é precisamente verdade
que o agronegócio não tem nada a dizer aos presidenciáveis nos temas de
sustentabilidade. O Observatório do ABC está trabalhando em propostas
específicas para aprimorar o Plano ABC. Afinal, o setor agropecuário está
dos dois lados da moeda quando se trata de mudança do clima: tem o maior
potencial de mitigação de Gases de Efeito Estufa (GEE) com baixos custos e é
o setor produtivo mais afetado pelo clima. O Plano ABC, com políticas de
crédito que incentivem práticas agrícolas sustentáveis e mitigadoras, é a
chave para o desenvolvimento do setor. Mas sentimos falta de uma agenda mais
ampla.
Aprimorar o Plano ABC e
resgatá-lo como principal instrumento de política pública promotor de boas
práticas produtivas têm dupla prioridade. A primeira, e mais óbvia, é
solucionar os problemas hoje já identificados pelo observatório para que o
plano atinja seus objetivos de disseminar tecnologias que resultem em menores
emissões de GEE pelo setor agropecuário. A segunda, a nosso ver mais
importante, é que o sucesso do ABC depende do engajamento das cadeias de valor
e existe uma clara relação de ganha-ganha entre todos os agentes econômicos
que não deveria ser desconsiderada nas demandas globais do agro.
O Plano ABC foi a primeira
tentativa de incorporar no principal mecanismo de política pública para o
setor agropecuário, o crédito oficial, condicionantes de boas práticas
produtivas que representam ganhos econômicos, e não apenas custo, para os
produtores. Se o Plano ABC der errado, aliado à tradicional posição mais
conservadora do agronegócio nos temas de sustentabilidade, podemos acabar
atirando o bebê junto com a água do banho.
Não é tarefa fácil
transformar o crédito oficial em mecanismo propulsor de boas práticas de
produção. Dentro do governo há grandes resistências, além das dúvidas
tradicionais do setor agropecuário. A própria incapacidade dos bancos em
analisar projetos com riscos difíceis de serem precificados e do governo de
fazer cumprir metas que ele mesmo cria é um grande obstáculo.
Para nós, o Plano ABC
deveria ser visto como uma ferramenta propulsora da agenda ofensiva de
sustentabilidade do agro brasileiro, com a ambição de que o casamento entre o
tomador de crédito ABC e o emprestador leve ao atingimento de uma meta comum:
melhoria de renda via acesso a tecnologias baseadas em boas práticas
produtivas.
Fonte: O Estado de S.Paulo
Autor: André Nassar e Leila Harfuch
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