Imagem: Gary Lopater/Unsplash

Biocombustíveis brasileiros em velocidade de cruzeiro

O etanol de cana-de-açúcar foi reconhecido pela Agência Ambiental Americana (EPA) como sustentável para a produção de bioquerosene de aviação. A publicação é resultado de uma revisão científica feita pela Agroicone em parceria professor Joaquim Seabra, professor da UNICAMP. A Raízen contribuiu com esses estudos a partir de dados e evidências mapeados em suas operações, e a UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) representou o setor nesse processo junto ao órgão regulador americano.

A Agência Ambiental Americana (EPA) publicou em seu site, no dia 12 de janeiro, a primeira avaliação da sustentabilidade do combustível de aviação produzido a partir de etanol de cana-de-açúcar do Brasil. Isso representa um passo decisivo para destravar uma agenda de investimentos que poderá recolocar o Brasil na vanguarda das tecnologias de energia de baixo carbono, o que é essencial para a transição energética. Quando há 12 anos, o etanol de cana-de-açúcar brasileiro foi classificado como avançado pela EPA, o Brasil alcançou destaque internacional em tecnologia e inovação de biocombustíveis, o que pode se repetir agora em um novo contexto.

Leia a avaliação publicada no site da Agência Ambiental Americana (EPA).

Leia o estudo da Agroicone que fundamentou avaliação da EPA.

O desafio da transição energética no transporte de longa distância criou uma “corrida do ouro” na forma de um ambiente altamente competitivo em busca de soluções efetivas. Reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEEs) nos setores de aviação, transporte marítimo e de cargas é essencial para que se possa cumprir os compromissos na agenda do clima, em particular pelos países desenvolvidos. Ao contrário do setor de transporte leve, onde há uma disputa tecnológica entre eletrificação e combustíveis líquidos de baixa emissão, nesses setores existe consenso científico e político sobre a necessidade do uso de combustível líquido. No longo prazo, será um mercado promissor para os biocombustíveis e quem conseguir alcançar a liderança tecnológica estará em situação muito privilegiada.

Particularmente nos Estados Unidos, o governo federal instituiu robustos incentivos financeiros para quem conseguir produzir bioquerosene de aviação (BioQav) de baixa emissão de carbono e em larga escala. Como resultado, o setor privado americano se lançou em uma investigação global na busca de biomassas capazes de atender os requisitos ambientais e de redução de emissões. Ao longo de 2022 houve grande interesse dessas empresas por biomassa e combustível de alta performance ambiental no Brasil e, afinal, encontraram um porto seguro no etanol de cana-de-açúcar.

O bioquerosene de cana-de-açúcar já havia sido avaliado e aprovado no âmbito multilateral no programa CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), mantido pela Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), que é uma agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU). O reconhecimento pela EPA ratifica a sustentabilidade do produto brasileiro, facilitando o acesso aos recursos financeiros disponibilizados pelos governos.

Revisão científica

Em 2010, quando o etanol de cana-de-açúcar brasileiro foi primeiramente reconhecido pela EPA como um biocombustível avançado, todas as atenções estavam voltadas para as emissões de uso da terra (desmatamento indireto) e para a redução de 50% de emissões para o etanol em comparação com a gasolina. O Brasil obteve uma revisão significativa e suficiente para a classificação do seu produto.

Todavia, essa análise continha erros de avaliação relacionados ao teor de nitrogênio na palha da cana-de-açúcar, à dupla contagem das mudanças de uso da terra e às emissões do transporte. Os pesquisadores brasileiros já conheciam esses detalhes, que não tinham impacto para a classificação desse biocombustível como avançado para o transporte leve.

O atual desafio de viabilizar biocombustíveis de aviação em larga escala trouxe a necessidade de revisitar essa análise. Assim, em 2022, a Agroicone contribuiu com empresas interessadas nesse mercado e desenvolveu uma nota técnica em parceria com o professor Joaquim Seabra, da UNICAMP, na qual apresenta uma revisão científica. A Raízen contribuiu com esses estudos a partir de dados e evidências mapeados em suas operações, e a UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) representou o setor nesse processo junto ao órgão regulador americano, com o envio de informações técnicas do setor em abril de 2022. “O grosso das reduções diz respeito ao teor de nitrogênio na palha da cana, algo que já saltava aos olhos em 2010”, explica o sócio e pesquisador sênior da Agroicone, Marcelo Moreira, que coordenou essas pesquisas.

Dessa forma, o etanol de cana-de-açúcar brasileiro foi também reconhecido pela EPA como sustentável para a fabricação do bioquerosene de aviação. “A nova avaliação publicada no site da EPA, inclusive, reproduz os argumentos da nota técnica que nós enviamos”, destaca Marcelo.

Plataforma integrada de baixo carbono

Na avaliação de Marcelo, embora nesse momento a autorização tenha sido concedida a uma empresa norte-americana interessada no produto brasileiro, certamente abrirá muitas outras oportunidades de negócios no Brasil. “Dificilmente uma única empresa ou cultura agrícola conseguirá dar conta sozinha dos enormes desafios de redução de emissões que o mundo precisa. O ganho de escala necessário traz oportunidades para muitas empresas e vai necessitar de um conjunto de tecnologias, desde que sejam altamente eficientes em termos de uso da terra (como o uso de áreas degradadas, alta produtividade, produção em múltiplas safras e aproveitamento de resíduos), consigam aproveitar o potencial bio que o Brasil possui e estejam completamente desassociadas do desmatamento”, afirma ele.

“A validação pela EPA da primeira rota para a produção de bioquerosene de aviação a partir do etanol de cana-de-açúcar brasileiro é um marco muito importante para o agronegócio nacional, para o setor de transportes e para o mercado como um todo. Estamos muito contentes por ter colaborado com os especialistas e empresas neste processo para mostrar, a partir de dados e evidências mapeados nas nossas operações, que o etanol brasileiro tem um potencial de descarbonização muito além do que a instituição havia considerado anteriormente para o biocombustível. Essa conquista mostra mais uma vez que a nossa pegada de carbono e prática agrícola de produção é eficiente e pode contribuir significativamente para a transição energética e descarbonização global”, comenta Paula Kovarsky, vice-presidente de Estratégia e Sustentabilidade da Raízen, maior produtora mundial de etanol de cana-de-açúcar. “Mais do que isso, o movimento reafirma o argumento de que o desafio de descarbonização global precisa de soluções diversas, que valorizem as vocações naturais de cada região. Os biocombustíveis em geral e o nosso etanol em particular tem e terão papel muito relevante nessa jornada”, complementa Paula.

O Valor Econômico repercutiu a notícia, leia a matéria.

 

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