O estudo desenvolvido pela Agroicone em parceria com Angelo Gurgel (Massachusetts Institute of Technology), Joaquim E. A. Seabra e Rosana Galindo (UNICAMP), Lee R. Lynd (Thayer School of Engineering, Dartmouth College) e publicado na revista Nature, revelou os benefícios do sistema produtivo do etanol de milho de segunda safra no Brasil, destacando sua harmonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A investigação partiu da premissa de que a produção de etanol a partir do milho de segunda safra em áreas antes dedicadas exclusivamente à soja é o exemplo de crescimento mais rápido da estratégia de biocombustível de dupla safra no mundo. Além disso, espera-se que essa seja a primeira aplicação de bioenergia com captura e armazenamento de carbono no Brasil.
O trabalho avaliou os impactos socioeconômicos e ambientais do sistema de produção de alimentos e energia, baseado na dupla safra de milho em rápida expansão no Brasil, analisando se os impactos desse sistema estão bem alinhados com os ODS. Para isso, se considerou o sistema de produção de etanol de milho safrinha na região Centro-Oeste do Brasil em relação aos impactos nos ODS, utilizando modelos de ciclo de vida ambiental e de equilíbrio geral socioeconômico.
Principais resultados
O estudo revelou que o sistema de produção de etanol de milho, especialmente da segunda safra, é uma fonte de energia renovável acessível, com potencial para gerar 5 bilhões de litros de etanol por ano, além de 600 GWh de energia elétrica e 4 milhões de toneladas de insumos para ração animal. Ao mesmo tempo, o sistema também contribui para a redução de 9,3 a 13,2 milhões de toneladas de CO2, além de economizar 160 mil hectares de vegetação nativa.
Utilizando métodos avançados de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e modelos de equilíbrio geral computável (CGE), a pesquisa indicou que a produção de etanol de milho fortalece a segurança alimentar, melhora a renda das famílias da região Centro-Oeste e reduz os custos de conformidade com a legislação ambiental.
O estudo mostrou que a mudança também liberou 50 mil hectares para reflorestamento ou contenção do desmatamento, além de promover o crescimento de florestas plantadas e vegetação secundária. Dessa forma, o aumento da produção de etanol pode reduzir a pressão sobre novas áreas agrícolas.
Segundo a pesquisa, a expansão poderá reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil em 12 milhões de toneladas de CO2e até 2030. Com a adoção completa do sistema Bioenergy with Carbon Capture and Storage (BECCS), essa redução pode chegar a 15,9 milhões de toneladas de CO2e.
A pesquisa ressalta o fato de que a produção de etanol de milho contribui diretamente para vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A produção do biocombustível abrange o ODS 1 (erradicação da pobreza), ODS 2 (fome zero), ODS 7 (energia limpa e acessível) e ODS 13 (ação contra a mudança global do clima).
Por outro lado, a publicação recomenda atenção ao ODS 6 (água limpa e saneamento) para evitar impactos negativos na qualidade da água. Sugere-se que políticas públicas e privadas se ajustem às particularidades regionais do Brasil, minimizando riscos e garantindo o uso sustentável dos recursos hídricos.
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