O agronegócio brasileiro enfrenta uma dupla ameaça no cenário internacional: de um lado, a nova lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR), que entra em vigor em 2026; de outro, a taxação de 50% imposta pelos EUA sobre diversos produtos brasileiros. As medidas afetam diretamente a competitividade das exportações e trazem insegurança ao planejamento do setor.
A EUDR impõe restrições severas à importação de produtos originados de áreas desmatadas — inclusive em conformidade com a legislação brasileira — e classificou o Brasil como “risco padrão”, o que pode afastar compradores europeus em favor de países com classificação de “risco baixo”, como Vietnã e Uruguai.
Rodrigo Lima, sócio-diretor da Agroicone, alerta que a classificação coloca o Brasil em desvantagem:
“O importador vai preferir buscar o produto no país com menor risco possível, para evitar ser multado por uma fiscalização da Comissão Europeia. Mesmo sabendo que o café do Brasil é bom, o importador pode preferir comprar em um concorrente de risco baixo.”
Além disso, a falta de clareza sobre a documentação exigida pela UE agrava o cenário. Setores como o de café e carne bovina já se mobilizam para tentar regionalizar a classificação de risco, o que poderia melhorar a posição brasileira nas negociações.
Nos EUA, o novo tarifaço anunciado pela gestão Trump pode inviabilizar exportações como carne bovina, café, suco de laranja e ovos. Para Lima, as consequências podem se estender também ao mercado interno: a alta no custo de importação de insumos americanos pode impactar o preço de alimentos no Brasil.
Com dois de seus principais parceiros comerciais em rota de maior protecionismo, o agronegócio brasileiro enfrenta desafios urgentes para se adaptar e manter sua presença global.