O Brasil tem se consolidado como um exemplo mundial de integração entre a produção de alimentos e a produção de biocombustíveis, especialmente através do etanol de milho. De acordo com a International Energy Agency (IEA), a demanda global por biocombustíveis deve crescer 19% até 2030, enquanto a demanda por alimentos, segundo a OECD-FAO, aumentará em 13% até 2032, principalmente devido ao crescimento populacional nos continentes africano e asiático. Neste cenário de alta demanda por alimentos e energia, o Brasil, com sua tecnologia agrícola avançada, tem mostrado que é possível conciliar esses dois setores sem comprometer a segurança alimentar.
Uma das chaves para esse equilíbrio é o sistema de múltiplas safras, especialmente a sucessão soja-milho, onde a soja é cultivada na safra e o milho, na segunda safra, utilizando áreas antes ociosas. Em 2023/24, a produção de milho de segunda safra representou 78% da produção nacional, atingindo 90 milhões de toneladas. Esse modelo não só aumentou a oferta de alimentos e biocombustíveis, mas também promoveu uma produção de etanol mais eficiente, com a quantidade de milho usada para etanol aumentando 10 vezes em apenas 6 anos, enquanto o preço do milho, de forma surpreendente, não subiu significativamente.
O modelo também gerou benefícios econômicos, como demonstrado pelo estudo de Gurgel et al. (2024), que observou aumentos significativos na renda e no consumo das famílias de baixa renda da região Centro-Oeste do Brasil, com o fortalecimento da indústria de etanol de milho de segunda safra. Além disso, a produção de biocombustíveis contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em comparação com os combustíveis fósseis, sendo uma solução energética sustentável e renovável.
A técnica “Poupa-Terra” é outro fator crucial que possibilita a expansão da produção de biocombustíveis sem necessidade de ampliar as áreas agrícolas. As práticas de manejo eficiente e a otimização do uso da terra têm permitido um crescimento sustentável, com o uso mais intensivo da terra sem que isso comprometa a produção de alimentos.
Portanto, a produção de etanol de milho no Brasil tem se mostrado um modelo de como é possível integrar, de maneira eficaz e sustentável, a produção de energia e alimentos, apoiando tanto a segurança alimentar quanto a segurança energética, enquanto também contribui para a mitigação das mudanças climáticas.