A pecuária de corte experimentou uma melhora acentuada no “pacote tecnológico” nos últimos três anos, quando o produtor passou a dedicar maior atenção a técnicas de manejo mais avançadas, combinado com melhorias na área de nutrição e avanços na integração entre lavoura e pastagens, anota Maurício Palma Nogueira, sócio coordenador de pecuária da Agroconsult. “Nesse período, cresceu a participação de produtores de grãos no mercado de carne bovina”, afirma.
A terminação de bois na entressafra em pastagens cultivadas em sistemas de rotação com a soja, diz ele, permitiu atingir um ritmo de ganho de peso por animal acima do que seria alcançado na engorda convencional. Entre outros reflexos, esse processo tem contribuído para redução do peso médio do rebanho como um todo, diminuindo o que os técnicos chamam de “pressão de pastejo”.
Em termos práticos, traduz Nogueira, isso significa que um criador que dispõe de estrutura para receber, tratar e engordar mil cabeças por ciclo poderá colocar em sua fazenda 10% a 20% mais animais ou, alternativamente, aumentar a oferta de pasto de boa qualidade, o que vai acelerar, no final, a engorda dos animais em terminação. “O produtor está “terminando” o boi mais cedo e obtendo um animal com maior peso para abate”, complementa ele.
Esse animal, que normalmente seria encaminhado ao frigorífico por volta de janeiro, tem sido abatido entre setembro e outubro, o que gerou, por exemplo, a escassez relativa de animais prontos para abate por volta de fevereiro e março deste ano, situação normalizada apenas em maio, já na entrada da entressafra. “O setor vai adiantar para o segundo semestre o abate que anteriormente somente ocorreria em janeiro de 2015.”
Isso traz ganhos diretos para a atividade, principalmente quando se leva em conta que, na média, cada animal em fase de engorda exige um custo entre R$ 28 e R$ 32 por mês. “Um mês a menos de engorda contribui para reduzir o custo médio e significa renda direta para o produtor”, avalia. Há 10 ou 15 anos, recorda-se Nogueira, 30% dos machos eram abatidos com mais de 40 meses, proporção reduzida em 7% atualmente.
A pressão econômica diante de níveis de rentabilidade mais elevados oferecidos pela produção de soja, principalmente, e de uma tendência de elevação de custos de produção, comenta Alex Lopes, consultor da Scot Consultoria, obrigaram a pecuária de corte a investir em ganhos de produtividade e de escala. “O peso de carcaça dos animais levados a abate aumentou de 16,5 arrobas, há meia década, para 18 arrobas. Esse ganho engloba melhoria de pastagens e genética”, avalia Lopes. Nos anos 1970, trazida a valores atuais, a arroba do boi gordo valia entre R$ 300 e R$ 350 “com custos muito mais baixos, o que reforça a necessidade de produzir ganhos de escala e extrair mais de cada animal”. Em maio deste ano, no mercado de São Paulo, apenas para comparação, a arroba estava sendo negociada entre R$ 120 e R$ 125.
Os ganhos já computados tendem a preservar a posição de liderança do Brasil no mercado internacional de proteína animal. Lopes aguarda “resultados bastante positivos” para as exportações de carne bovina neste e no próximo ano. Nogueira, por sua vez, acredita que as vendas externas do setor deverão ser recordes em 2014, tanto em volume como em receitas, com embarques se aproximando de 2,26 milhões de toneladas em equivalente carcaça, frente a 2 milhões de toneladas no ano passado.
Para as pesquisadoras Leila Harfuch e Luciane Chiodi, da Agroicone, a esperada redução na produção de carne bovina nos Estados Unidos, que vem perdendo rebanho nos últimos anos, deverá pressionar a oferta mundial, abrindo espaço para as exportações brasileiras e de outros países da América do Sul. Em 2015, analisam ainda, “a recuperação econômica global e os ganhos de mercado do produto brasileiro devem continuar puxando as exportações”.
Líder global em carne de frango, com participação de 34%, seguido pelos EUA, com 33%, continuam Leila e Luciane, as exportações do setor devem manter um ritmo anual de crescimento de 2% a 3% neste ano e em 2015, com vendas ao redor de 80 mil a 120 mil toneladas. Neste ano, a ocorrência de gripe aviária no México e a substituição do consumo de carne suína pela de frango nos EUA, em função da propagação da diarreia suína, permitiram alta dos embarques de frango para o mercado mexicano “antes exclusivo dos americanos”.
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Fonte: Valor Econômico>
Autor: Lauro Veiga Filho