Mão de obra: o desafio da indústria de aves

Autores: André M. Nassar e Luciane C. Bachion

A carne de frango ocupa uma posição de destaque no agronegócio brasileiro, sendo um dos principais produtos da pauta exportadora do País, atrás apenas do complexo soja, minério de ferro, petróleo e farelo de soja. Em 2013, o valor das exportações de carne de frango representou 8% das exportações totais do agronegócio brasileiro.

No mercado internacional, o Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango e o terceiro maior produtor, atrás apenas dos Estados Unidos e China.

Apesar de ocupar o primeiro lugar entre os países exportadores de carne de frango, a participação brasileira no comércio internacional deste produto vem se reduzindo nos últimos anos. Em 2008, as exportações brasileiras de carne de frango representavam 38,7% das exportações mundiais, passando para 34% em 2013. Em contrapartida, a participação de outros mercados como Tailândia, China e Europa aumentou nesse período. Esse cenário nos leva aos seguintes questionamentos: O que gerou essa redução na participação brasileira? O Brasil está perdendo sua competitividade no setor avícola?

O estudo elaborado pela ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e Agroicone, sobre a competitividade da indústria exportadora de frango do país, analisou o custo de produção do Brasil e dos principais mercados competidores: Estados Unidos, Europa e Tailândia. O objetivo da pesquisa foi levantar e avaliar, para cada um desses mercados, os principais itens do custo industrial e da produção animal, assim como as despesas de logística até os principais mercados de destino.

O resultado dessa análise mostrou que apesar do Brasil ainda ser um país competitivo, sua competitividade está centrada na produção do frango, pois na parte industrial, o Brasil possui custos mais elevados que seus concorrentes no componente mais relevante do custo industrial: a mão de obra.

O salário no Brasil aumentou em dólares 166% entre 2006 e 2013, enquanto que nos demais países competidores o crescimento nesse período foi inferior a 25%. No entanto, não é na questão do aumento salarial que devemos centrar nossos esforços, já que apesar do incremento significativo, o salário/hora no Brasil é ainda significativamente inferior ao dos EUA e países da Europa. Por outro lado, o custo da mão de obra por quantidade de carne produzida no Brasil e nesses países é equivalente.

Os desafios enfrentados pela indústria de frango nos últimos anos refletem a atual situação que vivenciamos em diversos outros setores industriais no Brasil, a combinação de falta de mão de obra, com a baixa produtividade e o alto custo do trabalho.

Comparando os dados da Pesquisa Industrial Anual do Brasil (no Brasil feita pelo IBGE), Estados Unidos e Europa, os encargos e benefícios incidentes sobre a mão de obra na indústria de processamento de frango representam, aproximadamente, 54% do salário no Brasil, 27% nos Estados Unidos, 21% na Alemanha e Holanda e 38% na França.

Contudo, o crescimento do custo da mão de obra não seria um problema se a produtividade crescesse no mesmo ritmo. Numa situação de baixo nível de desemprego, na qual o Brasil se encontra, é preciso aumentar a produtividade para se atingir a eficiência e ser competitivo.

A produtividade da mão de obra tem sido um tema de grande debate no Brasil e está relacionada a uma combinação de fatores que englobam tecnologia e inovação, qualificação profissional, burocracia e infraestrutura.

O custo marginal do investimento do aumento da capacidade de abate da indústria de frango no Brasil é 25% superior ao dos Estados Unidos e 85% mais alto do que o da Tailândia. Além disto, temos custos logísticos superiores aos dos de nossos concorrentes. O frete interno para o transporte de aves no Brasil é superior ao da Tailândia em 40% e o nosso custo portuário é praticamente o dobro do americano e do tailandês.

Contudo a política monetária do Brasil vai à contramão dos países competidores. O aumento das taxas de juros inibe o investimento privado, principalmente quando se exige conteúdo nacional para condições especiais de financiamento e se gera a desaceleração do processo de automação das indústrias brasileiras.

Além disso, o Brasil possui um conjunto de exigências e normas que as empresas precisam cumprir e se adaptar. Atualmente são 36 Normas Regulamentadoras (NRs) no Brasil, sendo que a NR 36 regula a segurança e saúde no trabalho em empresas de abate e processamento de carnes e derivados.

As normas em si não são um problema, já que garantem a segurança e bem estar do trabalhador. Mas sim o excesso de burocracia para cumpri-las, que encarece o custo das empresas e exige a alocação de recursos em atividades que não estão ligadas ao processo produtivo.

Publicado na Revista AVISITE, página 74, edição novembro.2014

Compartilhe: