Com a enorme importância de grandes corporações na economia global, governos e sociedade civil ainda estão aprendendo a interagir com essas organizações. As abordagens podem ser diversas e muito ainda precisa ser feito para aprimorá-las, mas o certo é que parcerias com o setor privado são importantes para promoção de desenvolvimento. As forças do empreendedorismo, o “espirito animal” segundo Keynes, são cada vez mais fortes e têm impactos profundos nos territórios, nas atividades econômicas e na vida das pessoas. Conviver e usar essas forças é crucial para obter objetivos sociais diversos como cumprimento de direitos humanos, conservação ambiental, e combate a obesidade.
A ministra Izabella Teixeira, em recente evento de grande varejista multinacional, declarou como é difícil para o governo estabelecer diálogos efetivos e parcerias concretas com o setor privado. Para ela, a máquina pública está preparada para fazer política ambiental do tipo comando e controle, isto é, criar regras e fiscalizar- e a afirmação também valeria para políticas públicas de outras áreas. É claro que o Estado não deve deixar de atuar nesse âmbito, pois regras e fiscalização são cruciais para regular empresas e indivíduos e, assim, garantir o bem estar social. Comando e controle, porém, não é suficiente e nem eficiente para dar conta de uma série de problemas atuais da nossa sociedade. Os desafios contemporâneos são caraterizados pela complexidade onde muitos fatores são interconectados em diversas relações de causas e efeitos. Nesse ambiente complexo, a atuação das grandes corporações tem um peso alto na produção e fornecimento de cadeias de valor, e, portanto, estas organizações devem fazer parte do planejamento e implementação de políticas de desenvolvimento.
Se para governos é desafiador criar novas abordagens e, assim, trabalhar junto com o setor privado para obter metas sociais, empresas também têm dificuldades para incorporar novas responsabilidades que vão além da maximização de lucros. A área de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) vêm evoluindo, mas ainda há um largo caminho para ser seguido. Existe o problema das ações de RSC serem simplesmente marketing e discursos vazios, o chamado green washing. Além disso, empresas se caracterizam por atitudes competitivas e muitas das ações de desenvolvimento requerem iniciativas coordenadas e de cooperação. Embora separar esses dois âmbitos em uma mesma organização não seja trivial, o mundo corporativo já reconhece que existem áreas em que a ação pré-competitiva é mais eficiente.
As dificuldades não podem paralisar a ação, mas sim motivar mais trabalho e articulação nas organizações envolvidas, tanto nos governos e empresas, quanto no terceiro setor. Em municípios com pouca ou nenhuma atividade empresarial onde um grande empreendimento se instala, o desafio é a coordenação entre as ações dos governos locais e do empreendimento para atender as demandas da população, com o objetivo de capturar o desenvolvimento gerado pelo empreendimento para todo o território.
Em uma escala mais ampla, grandes corporações de comércio e consumo compram muitas matérias primas e em grandes volumes. As regiões escolhidas e os critérios para compra podem ter peso maior do que uma legislação e, assim, podem ser importantes direcionadores de desenvolvimento regional. As grandes corporações de consumo atingem diariamente bilhões de pessoas, indicando grande alcance de atuação, seja por meio da qualidade de seus produtos, por exemplo teor de sal, ou pelo poder de comunicação e informação associado aos produtos. Deste modo, governos e sociedade civil atuando em políticas de controle de desmatamento ou segurança alimentar e nutricional podem se beneficiar ao trabalharem de maneira coordenada com estas grandes corporações.
O grande desafio é obter dois equilíbrios: nas empresas, equalizar competição com cooperação, e nos governos, aliar políticas de comando e controle com incentivos e parcerias com setor privado
Publicado no jornal Estadão no Caderno Economia em 10.janeiro.2015
Fonte: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,parcerias-na-promocao-de-desenvolvimento-imp-,1617920
Autor: André M. Nassar e Laura Antoniazzi