A Produção Brasileira de Gado de Corte e Seus Desafios Globais: um panorama sobre sustentabilidade, competitividade e futuro da pecuária

A Agroicone apresenta um estudo sobre a produção brasileira de gado de corte e os desafios socioambientais que moldam o futuro da pecuária no país. A publicação chega em um momento decisivo: o mundo vive a urgência da descarbonização, o mercado global exige padrões sanitários e ambientais cada vez mais rigorosos e o Brasil — maior exportador de carne bovina — ocupa papel estratégico na segurança alimentar global.

O relatório analisa a estrutura produtiva da pecuária de corte, sua relevância econômica, o papel dos pequenos produtores, os desafios ambientais e institucionais e as oportunidades que se abrem para um setor mais eficiente, sustentável e competitivo.

Relevância econômica e produtiva

O agronegócio representa aproximadamente 22% do PIB brasileiro, e a pecuária responde por 5,1% do PIB total. Com 197 milhões de cabeças e mais de 160 milhões de hectares em pastagens, o Brasil é hoje responsável por 21% da oferta global de carne bovina e deve alcançar 28% das exportações mundiais até 2033.

Mesmo com forte presença no mercado internacional, 70% da produção de carne bovina permanece no mercado interno, reforçando o papel sociocultural dessa proteína na alimentação brasileira.

O estudo mostra que os avanços tecnológicos das últimas décadas — genética, nutrição, sanidade, sistemas produtivos mais intensivos e monitoramento — foram determinantes para ganhos de produtividade e abertura de mercados do setor.

Desafios socioambientais 

Apesar dos avanços, a pecuária de corte enfrenta desafios cruciais:

Desmatamento e uso da terra

O Brasil reduziu a necessidade de novas áreas agrícolas, mas ainda enfrenta desafios quanto ao desmatamento, especialmente na Amazônia e no Cerrado.
  A mudança de uso da terra foi responsável por 39,5% das emissões de GEE do país em 2022, ultrapassando o setor agropecuário.

Emissões de GEE na pecuária

A fermentação entérica representa 80% das emissões do setor. Porém, há grande potencial de mitigação via: manejo adequado de pastagens, adoção de sistemas integrados, como a integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF) e a intensificação sustentável. Estudos da Embrapa mostram que é possível produzir carne carbono neutro em sistemas bem manejados e integrados.

Baixa adoção tecnológica entre pequenos produtores

Os pequenos pecuaristas representam grande parte dos estabelecimentos rurais, mas enfrentam: reduzida oferta de assistência técnica (82% não recebem), baixa adoção de práticas de manejo, dificuldade de acesso ao crédito, baixa produtividade, barreiras à regularização ambiental e fundiária. Esse cenário aprofunda desigualdades e aumenta a vulnerabilidade ambiental.

Rastreabilidade e monitoramento

O Brasil ainda não possui um sistema nacional de rastreabilidade completo. O PNIB (Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos) — lançado em 2024 — é um marco importante, com implementação gradual até 2032.

A rastreabilidade é essencial para garantir segurança sanitária, comprovar conformidade ambiental, combater informalidade e possibilitar o acesso a mercados que exigem desmatamento zero.

O papel dos frigoríficos e o caso Marfrig

Os frigoríficos têm se tornado agentes de coordenação do sistema agroalimentar, incentivando práticas sustentáveis e apoiando fornecedores.

A Marfrig é apresentada como exemplo de transformação:

  • Compromisso com desmatamento zero desde 2009
  • Programa Marfrig Verde+
  • Meta de 100% da cadeia livre de desmatamento antecipada de 2030 para 2025
  • Mais de 4.000 produtores reincluídos graças a ações de regularização e assistência
  • Monitoramento de fornecedores diretos e indiretos
  • Apoio técnico e financeiro para pequenos e médios produtores

A estratégia mostra como grandes empresas podem impulsionar mudanças estruturais na cadeia.

O futuro dos sistemas alimentares

O estudo contextualiza também a transição global para sistemas alimentares sustentáveis, tema prioritário na COP30. O Brasil, como potência agroambiental, tem papel fundamental nessa agenda.

Entre as ações prioritárias destacadas estão: tecnificação ampla do setor, adequação ao Código Florestal, rastreabilidade da cadeia, financiamento diversificado (público, privado e blended finance), inclusão produtiva dos pequenos produtores, governança sistêmica entre governo, empresas, setor financeiro e sociedade civil

Conclusão

A pecuária brasileira tem enorme capacidade de produzir mais e melhor, com sustentabilidade, inovação e inclusão social. A adoção de tecnologias, a conformidade com a legislação ambiental, a rastreabilidade e o apoio ao pequeno produtor são fundamentais para garantir competitividade internacional e reduzir impactos sociais, econômicos e ambientais.

O estudo fornece uma visão abrangente, baseada em dados, que ajuda governos, empresas, produtores e instituições a compreenderem o momento crítico e as oportunidades para transformar a pecuária de corte brasileira em um modelo global de sustentabilidade.

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