Por Leila Harfuch, Gustavo Lobo e Lauro Vicari
A Agroicone publica sua análise anual sobre o Plano Safra 2025/2026, com foco no alinhamento entre a política de crédito rural e os atributos de sustentabilidade econômica, social e ambiental da agropecuária brasileira. Assinada por Leila Harfuch, Gustavo Lobo e Lauro Vicari, a publicação examina o conteúdo anunciado para a agricultura empresarial e familiar, além de apresentar uma síntese das principais propostas levadas pela Agroicone aos formuladores de política pública.
Entre os principais destaques da análise estão:
Agricultura empresarial
- Volume e composição dos recursos equalizáveis: O governo federal autorizou R$ 103,2 bilhões em recursos equalizáveis até dezembro de 2025, com prioridade para custeio (60% do total).
- Mudanças nas fontes de financiamento: A LCA representou 50,3% do total, ultrapassando fontes tradicionais como a poupança rural. O BNDES passou a operar majoritariamente com recursos próprios e LCA, totalizando R$ 63,8 bilhões.
- Obrigatoriedade do ZARC: Pela primeira vez, tornou-se obrigatório o uso das recomendações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) em todas as operações de custeio agrícola, quando disponível.
- RenovAgro: O programa foi ampliado para incluir ações como combate a incêndios florestais e a implantação de viveiros de mudas de espécies nativas, além de vedar a supressão de vegetação nativa nos projetos financiados.
- Crédito de custeio com desconto de juros para produção sustentável: Produtores que contrataram o RenovAgro (ou Programa ABC/ABC+) ou com certificações sustentáveis continuam acessando crédito de custeio com taxas reduzidas. Em 2024/2025, foram contratados R$ 3,15 bilhões nessas condições.
- Classificação do crédito sustentável: A metodologia da Agroicone permitiu classificar 23,1% dos recursos do crédito rural contratados na safra 2024/2025 como alinhados à jornada de sustentabilidade, com destaque para o RenovAgro e Pronaf.
Agricultura familiar
- Incentivos mantidos e ampliados: O Plano Safra da Agricultura Familiar 2025/2026 deu continuidade a políticas de incentivo para produtos da cesta básica, agroecológicos, orgânicos e da sociobiodiversidade. Destaca-se ainda o anúncio de compras públicas para arroz.
- Análise das culturas incentivadas: A maioria dos produtos da cesta básica apresentou queda em número de contratos e valor financiado entre 2023/2024 e 2024/2025, com exceção de cinco culturas. O trigo teve queda significativa.
- Taxas de juros reduzidas e acesso a novas linhas: Linhas como Pronaf Floresta, Semiárido, Agroecologia e Bioeconomia operam com taxa de 3% a.a. Foi lançado o Pronaf Conectividade, com taxa de até 2,5% a.a., carência de até 3 anos e pagamento em até 10 anos.
- Crédito alinhado à sustentabilidade: crescimento do Pronaf Bioeconomia, com R$ 2,1 bilhões em 30,5 mil contratos na safra 2024/2025. Os principais itens financiados foram energia renovável, correção de solo e irrigação.
- Inovação em irrigação sustentável: Passou a ser permitido o financiamento de sistemas de irrigação com energia solar em diversas linhas do Pronaf, com limites diferenciados por renda e modalidade.
- Transição agroecológica: Avanços em linhas com juros de 2% a.a. e lançamento do Pronaf B Agroecologia, com juros de 0,5% a.a. No entanto, ainda há baixo número de contratos e valor financiadono Pronaf Agroecologia.
- Substituição do PGPM-Bio pelo SocioBio Mais: Mantém apoio à sociobiodiversidade com pagamento mínimo para produtos como babaçu, pirarucu e borracha.
- Criação do Pronara: O Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos visa incentivar bioinsumos e tecnologias sustentáveis em quatro eixos de atuação.
- Assistência técnica ainda limitada: O orçamento para ATER pública caiu de R$ 307 milhões para R$ 240 milhões, o que permanece insuficiente diante das necessidades do setor.
Propostas da Agroicone para o Plano Safra 2025/2026
A Agroicone elaborou sete Notas Técnicas com contribuições para aprimorar o Plano Safra, promovendo a sustentabilidade, a gestão de riscos e o cumprimento de normas ambientais. Entre os pontos destacados:
- Gestão de riscos socioambientais e climáticos: Implementação do ZARC e, a partir de 2026, observância do desmatamento ilegal via PRODES/INPE como critério para concessão de crédito.
- Mapas e dados para gestão de crédito: Propostas de inclusão de mapas do ZARC Níveis de Manejo, qualidade de pastagens e potencial hídrico municipal no SICOR.
- Crédito para áreas em Florestas Públicas tipo B: Proposta de restrição parcial de financiamento e verificação da vegetação nativa nessas áreas.
- Fomento à restauração e ao Código Florestal: Inclusão de viveiros de mudas e silvicultura de espécies nativas como atividades isoladas elegíveis a crédito.
- Conversão de pastagens degradadas: Propostas para usar o crédito rural como instrumento de incentivo à conversão dessas áreas em sistemas produtivos sustentáveis, alinhadas ao Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD).
- Otimização do uso dos Fundos Constitucionais de Financiamento: Propostas para maior alinhamento dos recursos com políticas públicas e objetivos dos fundos.
- Alinhamento com a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB): Sugestões de ajustes no SICOR para garantir compatibilidade com a TSB e viabilizar a classificação das operações sustentáveis.
- Integração entre crédito e seguro rural: Avaliação do PL nº 2.951/2024 e necessidade de integração entre instrumentos, com atenção à criação de um fundo catástrofe e à revisão do Proagro.
O documento completo está disponível para download e serve como referência para o aprimoramento da política agrícola nacional e a transição para uma agropecuária mais resiliente e sustentável.
—
Summary – Brief Analysis of Brazil’s 2025/2026 Agricultural Plan and its Alignment with Sustainability Attributes
By Leila Harfuch, Gustavo Lobo e Lauro Vicari
Agroicone’s annual analysis of Brazil’s Agricultural Plan (Plano Safra) focuses on the alignment between rural credit policy and sustainability goals. The 2025/2026 Plan reinforces support for smallholders and environmentally sustainable practices through credit incentives, risk management, and strengthened eligibility criteria based on environmental compliance.
Key highlights:
- Public resources and credit sources: R$ 103.2 billion in subsidized credit was authorized through December 2025, with increased participation of market-based instruments like LCAs.
- Climate risk management: Use of the Agricultural Zoning of Climate Risk (ZARC) is now mandatory for all working capital loans (if available).
- Sustainability incentives: The RenovAgro program expanded to include forest species seeds and seedlings, , and wildfire prevention. Sustainable practices benefit from lower interest rates and favorable credit conditions.
- Classification of sustainable credit: Agroicone’s methodology shows 23.1% of rural credit aligned with sustainability in the 2024/2025 season.
- Family farming focus: The 2025/2026 Family Farming Plan maintains incentives for agroecological, organic, and biodiversity-based products. New initiatives include Pronaf Conectividade (rural connectivity) and the National Program for Reducing Agrochemicals (Pronara).
- Irrigation and energy innovation: Credit is now available for solar-powered irrigation systems, contributing to climate resilience for family farmers.
- Agroecology credit lines for family farmers: Expanded access and favorable rates, though still limited in contract volume.
- Technical assistance challenges: Public funding for technical assistance services remains low, reaching only a small fraction of family farmers.
- New regulations and proposals: Agroicone presented policy notes to improve environmental safeguards in rural credit, promote compliance with the Forest Code, and integrate credit with sustainable land use practices.
The full report, available in Portuguese and English, brings detailed analysis and recommendations to enhance rural credit policies and drive sustainable transformation in Brazilian agriculture.
