O milho de segunda safra cultivado na região Centro Oeste do Brasil teve aumento notável de produtividade nos últimos 20 anos, o que favoreceu investimentos da indústria de biocombustíveis na modalidade do etanol de milho de segunda safra. A perspectiva é de aumento da produção brasileira de etanol de milho, chegando a 3 bilhões de litros até 2021. A velocidade e volume dos investimentos indicou a necessidade de um estudo para mensurar os impactos socioeconômicos, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a mudança de uso da terra provocada pela indústria de etanol de milho de segunda safra.
O estudo, coordenado por pesquisador Marcelo Moreira, sócio da Agroicone, com a contribuição de um grupo internacional de pesquisadores, foi publicado pela revista Nature Sustainability. Os resultados mostram que o potencial econômico está aliado com significativas contribuições para mitigar as emissões de gases do efeito estufa (GEE), que pode chegar entre 71% até quase 100% quando comparado com a gasolina. O percentual varia de acordo com os processos agroindustriais da usina e metodologia de avaliação.
Existem algumas características do processo de produção do etanol de milho que contribuem para esses resultados tão positivos. A primeira delas é que o etanol de milho produzido no Brasil é de segunda safra, na rotação com a soja. “Por ser plantado na mesma área que uma outra cultura, esse sistema traz benefícios econômicos porque aproveita insumos utilizados no primeiro plantio, e também traz benefícios ambientais porque protege o solo, evita o desmatamento e não compete com produção de alimentos”, explica Moreira. A segunda razão é o uso do eucalipto como fonte de energia da usina, no lugar de energia fóssil. Os dois fatores diferenciam o etanol de milho brasileiro daquele produzido nos Estados Unidos, com significativos benefícios ambientais.
Dois fatores adicionais são relevantes para reduzir as emissões do etanol de milho de segunda safra. O processo de fabricação resulta na coprodução de subprodutos para alimentação animal, ricos em nutrientes, denominados DDGs (Dried Distillers Grains), que reduzem a demanda por milho e soja para ração e disponibiliza insumos para intensificação da pecuária. Além disso, o excedente de bioeletricidade da usina (produzida com eucalipto) é revertido para a rede elétrica, reduzindo a demanda por outras fontes de energia. “São resultados que realinham visões entre produção de biocombustíveis e gestão eficiente do uso da terra. O mais inovador nessa pesquisa é uma primeira documentação cientifica de exemplo concreto (e não teórico, ou potencial) de um biocombustível que tem efeitos positivos no uso da terra”, comenta Moreira.
O etanol de milho de segunda safra aparece como um mercado emergente, em forte expansão na região Centro Oeste, com indicadores de sustentabilidade. Desde 2017, com a instalação da primeira usina 100% milho de segunda safra no estado de Mato Grosso, pelo menos três novas usinas estarão em operação ou ampliação na região esse ano. São investimentos que impulsionam a economia local e nacional, conforme avaliado pelo estudo.
Tomando como exemplo uma usina que produza 500 milhões de litros ano, estima-se a criação de aproximadamente 8,5 mil empregos diretos e indiretos ao longo da fase de construção, incluindo insumos de outros estados. A movimentação para a economia doméstica no mesmo período foi estimada em R$ 1,4 bilhões. Na fase de operação, a mesma usina gerou 4.500 empregos por ano e valor agregado de cerca de R$ 1 bilhão. Uma das usinas estudas foi a FS Bioenergia, primeira a operar com 100% de etanol de milho de segunda safra, no município de Lucas do Rio Verde.
Para ler o estudo completo, acesse: Nature SharedIt